Pabllo Vittar, Whindersson Nunes, Maísa, Simone Mendes e Thelma Assis. Artistas e influencers que, juntos, têm mais de 156 milhões de seguidores no Instagram, estão há quatro meses aparecendo em outdoors e anúncios online com a mesma cor amarela e o aviso: cartão de crédito sem anuidade.
A massiva campanha com os influenciadores de milhões serve para promover o banco digital Will Bank, que se apresenta como o único que conseguiu “simplificar a linguagem das finanças e entregar produtos e serviços do mercado financeiro para todos os tipos de clientes”, nas palavras de seu CEO, Felipe Felix.
O foco na linguagem chama mesmo a atenção de quem navega pelo pelas redes do banco. O uso de gírias como “meus consagrados” e “segue o baile”, bem como a escolha de usar batidas de funk em seus vídeos — até mesmo no que explica os termos de uso do cartão de crédito — mostra que a empresa se empenha em criar uma comunicação voltada ao público jovem.
A ideia é conquistar os desbancarizados, ou seja, quem ainda não tem relacionamento com um banco, de acordo com material divulgado pela empresa. E se apresentar como novidade é essencial para quem optou por não ter ainda uma conta em banco ou um cartão de crédito.
No canal do Will Bank no YouTube, o vídeo mais antigo data de julho de 2021. A conta no Instagram, por sua vez, não possui fotos anteriores a 2020.
Entretanto, os fundadores do banco têm um longo e preocupante histórico justamente em relação a um dos principais produtos oferecidos pelo Will Bank: o cartão de crédito, de acordo com documentos obtidos pelo Monitor do Mercado.
O Will é dos mesmos donos da administradora de cartões de crédito Avista e que, desde 2014, é acusada de causar severos prejuízos a seus clientes. São centenas de cobranças por serviços que não foram contratados, como “tarifa de avaliação de crédito” e até mesmo a assinatura de uma revista publicada pela empresa.
Caso na Defensoria Pública
Foram tantas reclamações que chegaram à Justiça do Espírito Santo (berço da Avista) por causa das cobranças indevidas que a Defensoria Pública do estado ajuizou uma ação civil pública contra a empresa, cobrando por danos causados à coletividade.
No total, foram mais de 300 reclamações na Defensoria Pública e nos Procons do Espírito Santo, explica o defensor público Vitor Valdir. Isso além dos diversos processos movidos diretamente pelos consumidores contra a Avista e seus administradores, hoje sócios do Will Bank, como Giovanni Piana Netto e Walter Jose Piana.
A Avista é acusada de cobrar clientes por uma lista de serviços não contratados: Tarifa de Utilização; Tarifa de Limite Excedido; Tarifa de Avaliação de Limite; Tarifa de Avaliação de Crédito; Tarifa de Restabelecimento; e assinatura da Revista Avista e do serviço Avista Alerta SMS.
A ação corre desde 2017, mas foi, em julho deste ano, justamente no período em que o Will Bank resolveu apostar pesado na propaganda com influenciadores, que a empresa topou fazer um acordo com a defensoria pública do Espírito Santo.
No acordo (Termo de Ajustamento de Conduta), a Avista se comprometeu a identificar e ressarcir todos os consumidores que foram cobrados pelos serviços sem autorização.
Além disso, os clientes da empresa que identificarem as cobranças indevidas na fatura do cartão de crédito poderão entrar em contato com a empresa através da Central de Atendimento (SAC) ou do “Fale Conosco” — e ela é obrigada a pagar os valores de volta.
Cartão para negativados
Enquanto, de um lado, o cartão de crédito foi a raiz da ação civil pública contra a Avista, por outro, ele passou agora a ser o foco do Will Bank. Na última quinta-feira (4), a Serasa divulgou o Will Bank como uma solução para quem está com o nome sujo, oferecendo cartão de crédito para negativados.
O texto “Will Bank cartão de crédito para negativado: é possível ter o cartão com o nome sujo?”, publicado pela Serasa, afirma que a empresa já conta com 1 milhão de clientes ativos e já emitiu 1,7 milhões de cartões de crédito.
Contatado pelo Monitor do Mercado, o setor de comunicação do Will Bank não respondeu aos pedidos de contato da reportagem. Já a Avista sequer forneceu canais para contato da imprensa. O Monitor segue à disposição para publicar o lado das empresas.
Advogados ouvidos pela reportagem são categóricos em afirmar que celebridades como Pabllo Vittar, Whindersson Nunes, Maísa, Simone Mendes e Thelma Assis não podem ser legalmente responsabilizadas caso o cliente tenha algum problema com a instituição financeira que promovem.
Em caso de danos sofridos por clientes, “para os influencers, o dano maior será mesmo o reputacional”, diz Thiago Nicolai, advogado criminalista e sócio do DSA Advogados. “Eventuais erros, fraudes, entre outras questões, são de exclusiva e total responsabilidade da instituição”, complementa Daniel Bialski, advogado criminalista e membro do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim), sócio de Bialski Advogados.
Entretanto, na esfera administrativa, o jogo pode ser diferente, explica o advogado Daniel Delatorre, sócio do escritório DBBA. “A responsabilização, atualmente, tem ocorrido no campo administrativo. No Brasil, via CONAR. No exterior, temos, o exemplo dos EUA, que já no ano de 2016, via Federal Trade Commission (FTC), notificou mais de 90 influencers alertando sobre a obrigatoriedade de se respeitar as regras consumeristas do país. Em larga escala, as punições estão ocorrendo em esfera administrativa, no Brasil e no Exterior.”
*Imagem: Divulgação
Marcos de Vasconcellos é CEO do Monitor do Mercado e assessor de investimentos..
https://monitordomercado.com.br/noticias/33681-will-bank-influencers-de-milhoes-e-um-rastro