Investigado por suspeita de ter deformado o nariz de ex-pacientes, o médico Alan Landecker foi orientado a não realizar qualquer procedimento cirúrgico em sua clínica particular, em São Paulo
Agência O Globo –
Investigado por suspeita de ter deformado o nariz de ex-pacientes, o médico Alan Landecker foi orientado a não realizar qualquer procedimento cirúrgico em sua clínica particular, em São Paulo. A determinação consta em um relatório de inspeção feito pela Vigilância Sanitária da capital paulista, em junho deste ano. O GLOBO teve acesso ao documento.
Os inspetores relataram ter encontrado uma série de irregularidades na Clínica de Cirurgia Plástica Landecker, que “põe em risco a saúde da população exposta, pacientes, profissionais e funcionários”.
Diante dos problemas verificados, a Vigilância Sanitária orientou Landecker “a não realizar nenhum tipo de procedimento cirúrgico, ficando permitido o atendimento de consultas médicas e procedimentos estéticos que não necessitem do instrumental cirúrgico”.
A vistoria foi realizada em 15 de junho deste ano. Na ocasião, o estabelecimento não apresentou licença ambiental para a realização de cirurgias. O documento apresentado aos fiscais sanitários permitiram apenas atendimentos médicos ambulatoriais.
“Não cumpre boas práticas para processamento de produtos para saúde, não apresenta recursos humanos, equipamentos e estrutura física compatível com a legislação sanitária pertinente”, diz o relatório.
Os inspetores também verificaram a falta de “controle biológico para comprovação da eficiência do processo de esterilização”. O profissional responsável por essas atividades não tinha formação de nível superior, conforme exigido pela legislação.
Durante a vistoria, os fiscais sanitários encontraram produtos em frascos sem identificação e sem data de abertura, que precisaram ser inutilizados na hora. Também foram encontrados cremes usados, na sala de fisioterapia, com data de validade expirada.
Procurada pelo EXTRA, a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo não informou se a orientação para não realizar cirurgias ainda está em vigor. Por meio da assessoria de imprensa, Landecker informou que as determinações da Vigilância Sanitária foram atendidas, caso contrário a clínica teria sido interditada.
A Polícia Civil de São Paulo abriu investigações em duas delegacias contra Landecker. O médico foi denunciado por pelo menos 30 pacientes. Eles dizem que ficaram com deformações no nariz após procedimentos de rinoplastia.
Os pacientes relataram que, depois das cirurgias, foram acometidos por infecções bacterianas. Esses quadros infecciosos resultaram em deformações, perda de olfato e perfuração devido ao apodrecimento da pele.
Landecker foi afastado de duas unidades de saúde onde atendia. O Hospital Vila Nova Star informou que o médico foi suspenso e, por ora, não realiza qualquer atendimento no estabelecimento.
O Hospital Sírio-Libanês também informou que Landecker está com as atividades suspensas temporariamente, enquanto uma sindicância ética e administrativa interna é realizada. O processo ocorre em sigilo.
De acordo com o Sírio-Libanês, todos os casos de pacientes de Landecker na unidade de saúde foram avaliados. O hospital afirma que não foram identificadas falhas nos processos assistenciais realizados dentro da instituição.
“O Hospital Sírio-Libanês é comprometido com os mais altos padrões de controle de infecção hospitalar e é acreditado internacionalmente pelo seu alto nível de excelência em processos cirúrgicos e assistenciais”, diz a nota.
Landecker também atendia no Hospital Israelita Albert Einstein. A instituição informou que a atuação do médico está sob avaliação do Comitê Médico Executivo do hospital. “Um processo administrativo foi aberto para analisar a prática médica e os fatos relacionados aos pacientes tratados pelo profissional”, informa a nota. O hospital não confirma se Landecker está com as atividades suspensas.
Procurada pelo EXTRA, a defesa do médico negou as acusações, atribuiu os problemas ao descumprimento dos pacientes sobre as orientações e informou que vai acionar a Justiça contra os denunciantes. O texto é assinado pelos advogados Daniel Bialski e Fernando Lottenberg.