Informação consta de ofício da embaixada, enviado ao Itamaraty e de posse da CPI da Covid; TV Globo obteve relatório. À CPI, Wajngarten disse que não negociou, mas buscou ‘criar atalhos’.
Por Elisa Clavery, Wellington Hanna e Filipe Matoso, TV Globo e G1 — Brasília
13/06/2021
Documento da CPI da Covid obtido pela TV Globo mostra que uma executiva da Pfizer informou à embaixada do Brasil nos Estados Unidos que a proposta de acordo para aquisição de vacinas contra Covid seria enviada ao então secretário de Comunicação do governo, Fabio Wajngarten.
A informação consta de um ofício enviado pela própria embaixada ao Ministério das Relações Exteriores, em novembro do ano passado.
Wajngarten deixou o cargo em março de 2021. Em depoimento à CPI da Covid, no mês passado, disse que não negociou vacinas com a farmacêutica, mas, sim, buscou “criar atalhos” e “encurtar caminhos”.
“Não negociei. O meu intuito foi de ajudar, criar atalhos e encurtar o caminho para que a população brasileira tivesse a melhor vacina”, declarou Wajngarten à CPI.
O ex-secretário disse ainda que tinha competência técnica para “ajudar” em razão de sua formação jurídica e “histórico de negociação de contratos internacionais”.
Em nota enviada neste domingo (13) à TV Globo, o advogado de Wajngarten, Daniel Bialski, afirmou que o ex-secretário reitera ter agido para “acelerar processos, desburocratizar e possibilitar ambiente jurídico” a fim de que o Brasil pudesse adquirir vacinas “o mais rápido possível”.
“O ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten esclarece e reitera que toda a sua conduta foi para acelerar processos, desburocratizar e possibilitar ambiente jurídico para que o Brasil pudesse adquirir vacinas o mais rápido possível. Prova disso, é a carta de agradecimentos e cumprimentos que a Pfizer enviou ao ex-secretário em março/2021 e a posterior assinatura de contratos de fornecimento do imunizante”, afirmou Bialski.
Também em depoimento à CPI, o gerente-geral da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo, disse que as negociações foram feitas com o Ministério da Saúde. “Nossa negociação foi com o Ministério da Saúde. As conversações com o Sr. Fabio Wajngarten, em nosso entendimento, foram de uma possível coordenação dele, mas nós não conhecemos o funcionamento”, disse.
O documento
O documento da embaixada informa que, em 9 de novembro de 2020, diplomatas brasileiros se reuniram com a diretora de Relações Governamentais da Pfizer em Washington, Catherine Robinson.
O encontro foi pedido pela executiva para relatar um telefonema, no mesmo dia, entre o CEO da Pfizer no Brasil, Carlos Murillo, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes.
No encontro, mostra o ofício, a empresa disse que escreveria um acordo por 70 milhões de doses.
“Ainda de acordo com a representante da Pfizer, na conversa (‘muito positiva’), teria sido acordado que a equipe jurídica da Pfizer dará início à redação de um acordo tentativo com o governo brasileiro para o fornecimento de doses da vacina (70 milhões de doses, segundo Robinson). Essa proposta de acordo será enviada ao secretário especial de Comunicação, Fabio Wajngarten, nos próximos dias, conforme indicado por Robinson”, diz o documento da embaixada.
Ainda de acordo com esse ofício, a representante da Pfizer “se comprometeu a manter a embaixada informada das tratativas conduzidas em Brasília.”
Linha de investigação da CPI
As recusas do governo federal em responder à Pfizer são objeto de investigação da CPI da Covid.
A cúpula da comissão entende que o Brasil já teria vacinado uma parcela maior da população se tivesse fechado o contrato com a empresa ainda em 2020.
Em um ofício enviado ao presidente Jair Bolsonaro, que chegou ao gabinete dele em setembro de 2020, a empresa reclamou que já havia procurado anteriormente outros integrantes do governo e que ainda não havia obtido resposta.
Em agosto, mostram documentos da CPI, a Pfizer procurou a embaixada brasileira em Washington (EUA) para pedir ajuda junto ao governo brasileiro para obter uma resposta sobre a compra dos imunizantes pelo Brasil.
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